Transação passageira

         A travessia é singela e sutil, como se você estivesse em um meio fio, e caso desse o passo errado tudo caísse por agua abaixo.É claro que eu fui na direção oposta, pois essa é minha natureza. Uma vez que tudo o que acontece é culpa de minha distinta forma de pensar: a verdade é que gosto de criar crises sem sentido, problematizar uma simples resposta, discordar do que já se foi aceito e indagar se isso seria o mais adequado em determinado momento.  Às vezes ficava fadigado, às vezes se não sou coerente arruino meu dia.  Mas foi a direção menos caminhada que trilhei. E sem medo do que poderia enfrentar, viajei. Deixei pra traz tv, radio, cama, armário, fogão e geladeira, deixa pra traz pai, mãe, irmã e tia. E deixei, acima de tudo, um eu que hoje apenas relembro como um flash, quem nem eu sou eu. Passei por porto, torres, blumenau e bombinhas, atravessei o sul, e no centro encontrei minha rotina. Nem de vez em quando eu ligava pra saber como outrora eu estava. Nada do que eu lembrava era o suficiente para o pouco de vontade que eu tinha de ficar. Mas troquei de nome, fui em direção oposta. De forma nenhuma realizo ações exageradas ainda mais aquelas de grandes proporções. De Triste virei Alegre, de oi virei bom dia. Nada de mudanças paradoxais. É que de tudo que eu tinha vivido, sintia como um sopro o alçar dos braços de uma noite vazia. E tudo já não era tristeza, mas a forma conformada equivalente ao passar dos tempos acompanhando as inquietudes de cada dia.

Comentários

Porthos disse…
Grande Alisson! "É que de tudo que eu tinha vivido, sintia como um sopro o alçar dos braços de uma noite vazia." Lindo texto!

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