Febre

A doença aproximou-se, pude senti-la arranhando minhas costas. Ainda que o sonifero tenha agido rapidamente em minha corrente sanguinea, durante os segundos que perduraram a agonia, minha pele fervia em fogo e brasa. Percebi por um momento que pude pensar em todos os problemas humanos durante esse período pré-morte: sustentei-te com a mais bela memória, enquanto os pixeis do teu rosto se desfaziam com a transição de pensamentos; senti-me bestificado ao te ver e angustiado ao te olhar sumir; me afoguei em uma piscina de textos logo depois; e conversei pelo que pareceu ser uma eternidade com Cunhambebe: me perguntava por fim, se eu poderia ser um tamoio, ou então um pacificador que entendesse a linguagem indigena e perós para evitar o massacre dos moradores das matas; podia ver-me tambem em um grande auditório capacitando os ouvintes a aprender a viver; vejo meus heróis insignificantes e os cegos ignorantes em estátuas - com muito orgulho - sendo carregados, passando numa esquina qualquer de Porto Alegre; posso ver uma biblioteca imensa em meu quarto contendo todos os livros sobre todos assuntos; sinto calafrios, sinto vontade... tenho vontade... de renascer acumulativamente; te amo, nunca odeio, só fervo, enfermo.

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