Acorde

“Sempre quando olho para um ponto fixo vejo você.
E não me refiro a você. Refiro-me a mim mesmo. Pois é nisso “como eu me vejo”. ”

Era uma vez eu acordei.
Havia dentro de mim um infinito. Imagine um lugar sem dimensão espacial, sem luz, escuro. Na verdade com apenas alguns poucos feixes luminosos ocupando pequenos campos de iluminação, surgidos do ar, do meio de um espaço qualquer, flutuante e reluzente. 

No fundo de um lugar inexistente, existia um armário cheio de livros.
Na parte de baixo, havia livros infantis e fábulas. Nas gavetas do meio, uma tonelada escaldante de literatura cânone e romances contemporâneos, feitos para serem desentendidos. Na parte superior da estante encontravam-se os arquivos, revistas e materiais científicos. 

Nesse âmbito também se encontrava uma TV do lado esquerdo da estante.
(Seu cabo estava ligado em um dos feixes de luz)
Ao contrário desta estante, a  TV  sempre esteve ali desde o segundo segundos de minha vida. Ela me mostrava o que acontecia em minha vida, ela me lembrava de coisas, ela me atormentava, ela me acolhia e ela me magoava. Ela me ajudava a mudar e só trocava de canal quando isso acontecia.

À direita da estante, nesse escuro infinito espaço dimensional de poucas fendas luminosas havia também um chuveiro. Esse aí servia para descarregar o peso do cotidiano até que ele escorresse para o ralo e enfim eu  estivesse livre da rotina, das lembranças que eu não podia lembrar e das preocupações que não precisava me preocupar.

Algo interessante é que dentro de mim, me sintia mais livre. Dentro de mim não usava roupas, não existiam regras, não tinha vida, ou melhor, dentro de mim eu tinha vida.

No final do banho, precisava também me desfazer de mim, me descarregar, escorregar pelo ralo.
Só então poderia cair em minha cama de lençóis leves e edredons pesados até que minhas pupilas pesassem e eu estivesse vazio de tudo que outrora estava cheio. Só assim pude dormir outra vez.

“Sempre quando olho para um ponto fixo vejo você.
E não me refiro a você. Refiro-me a mim mesmo. Pois é nisso “como eu me vejo”. ”

Ver; entender; compreender; buscar o real; buscar a verdade; estabelecer a essência; entrar em equilíbrio; interpretar além do que se vê; conhecer a si.

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