Escrever
Quando trata-se de transpor as idéias em um papel, a reflexão é a conseqüência de palavra por palavra, frase por frase, período por período, oração por oração, que são acorrentadas no objetivo de entender o próprio pensamento. Escrever torna-se, então, uma ferramenta capaz de projetar o sujeito que produz em níveis de compreensão sobre os processos que formam as idéias do seu autor.
Mesmo quando nos sentimos vazios, ou sem argumentos para representar em textos alguma idéia, sempre contamos com a cognição e o entendimento básico que já possuímos de mundo, ou seja, as noções construídas a partir de nossas respectivas realidades, proporcionando assim, uma atividade de re-pensar sobre aquilo que já pensamos e re-significar tudo o que tínhamos por definido. Neste caso, proveniente de nossos textos e daquilo que escrevemos, resulta nossa própria e única colaboração ao mundo das idéias, o que em outras palavras poderia ser descrito como a criticidade e a peculiaridade da visão que se estabelece sobre o diferente.
Embora o procedimento da escrita lide, em boa parte, com o abstrato mundo das idéias, - e daí é criado uma barreira e um monstro chamado prática de leitura e prática de escrita nos inquietos - temos em vista que ela também tem o caráter da mimese. Em outras palavras, existe por trás de qualquer texto uma re-leitura da realidade ou de uma situação ou ficção - atende-se aí as concepções que revolvem sobre subjetividade pessoal e coletiva - já pensada. O que se sabe e o que é passível de ser visto, é um ato juvenil. Uma reciclagem de conceitos e o esculpir sobre o que já havia sido considerado, outrora, obra prima.
Escrever sobre escrever é indiscutivelmente pensar sobre a genesis de nosso ato propriamente dito. Visualizar mais nitidamente o por quê da necessidade humana de recorrer às práticas de escrita, e a relação intrínseca entre o pensamento e a reflexão. Uma ação de se auto-reconhecer, um jogo dos sete erros em frente ao espelho que transita entre a teoria e a prática. É deixar a ociosidade de lado para falar sobre tudo, tudo aquilo que faz de nós aquilo que somos ou aquilo que deixamos de ser, ou então, o simples reflexo do que acreditamos ou deixamos de acreditar.
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