Quimera

Quimera. Tuas palavras são restos.
Elas me dariam um livro.
Teu nome seria um dos personagens.
Tentaria te trazer para um mundo que só você existe - já seria o suficiente.

Se por acaso tu lembrares de mim em um dia qualquer.
Sentir a vida em um lugar bem distante, ouvir a música e tocar as ondas. - já é o suficiente.

Teus anseios me preocupam e fazem meu corpo ficar trêmulo.
Mesmo em silêncio tu falas mil palavras.
Tudo passa enquanto estás na estação e teus braços ainda estão abertos;
tudo passa em todos os lados enquanto tu estás na estação;
tudo passa aqui;
e tudo
é nada.

Tu encontraste a chave para a porta de meu apartamento, sem ao menos perguntar onde.
Tuas fotos estão guardadas na gaveta do armário da sala.
Tua música favorita na pasta saudades, no desktop.

Não tenho frio, porque uma vez foste sol.
Tuas cartas estão, ainda, sobre o bidê do quarto.
E por entre as fendas da janela tu vens.
como fios de luz, suaves e fracos, no início.
Que aos poucos tornam-se feixes maiores, iluminando meu rosto.
E não há tempo.

Não há tempo.
Nunca houve. Nosso tempo nem é tempo.
Tempo é biológico, é uma questão de ponto de vista.
Teu tempo é eterno e efêmero.
E por isso eu digo,
não há tempo.

Tuas palavras quando se juntam formam lindas frases nunca feitas.
Tuas mãos macias e teu abraço cuidadoso e sutil
me conferem o suicídio dessa lembrança,
mas nada de piegas, nada de tudo.

Aposto em problemas não resolvidos
aposto em tua natureza ambígua
tua movimentação voluptuosa
e tua personalidade inquieta e instável
teu âmago enfadado de sonhos altos demais para qualquer um alcançar.
Aposto nas macieiras de sábado e de um dia no campo;
Aposto nas cartas e na tuas frases lindas que derivam de tuas primeiras palavras.
- Apostar é jogar. Jogar é a abertura de uma simplíssima oportunidade de perda.
Aposto em perder. Se eu perder não vai soar tão ruim. -
Ilusão. Ter-te-ei acompanhada até meu leito de morte com plena felicidade de minha ida.
Afinal, tudo passa, não passa?

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