Um rio só


Me recuso a aceitar que passou. Mais um ano passou e nem ao menos percebi. Não percebi os dias, nem os meses, tão pouco as estações.  Foi aquele principio de inverno provavelmente. Aquele principio de inverno que congelou meus dedos, meus olhos e meu coração. Meu coração congelado na dor, permaneceu semi-estático envolto a grossa camada de gelo. Gelo que nem o verão pode degelar.
Mantendo-se apertada contra o coração, acolhida sentiu-se a dor. Sentiu-se em casa. Mas não fora assim como meus olhos sentiram-se. Melosos e lubrificados pelas gotas. Fundou-se ao meu redor um rio. Esse rio chama-se Solidão. E eu sou uma ilha. Uma ilha cujo único habitante sou eu. Me recuso a aceitar que passou. Mais um ano passou, e eu só envelheci.

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