Incompreensão

          No meu quarto, de fato, me sinto latejando. Estou me afogando em uma dor irremediável a medida que a noite cai. Não há nada que se faça sobre isso a não ser acalentar esse sofrimento e acomodá-lo contra o travesseiro. Já te proíbo de leres meus pensamentos, pois começo em plano raso e termino em cais profundo. Não quero assistir outros náufragos ao meu redor.
         Estou sob efeito de drogas pesadíssimas: olhos piscando como os do vagalume, acendendo e apagando, quase divagando, no escuro flutuando, me olhando contra o reflexo do espelho e me deixando. Do outro lado já não é meu rosto que me encara, mas teus olhos verdes. Eles me arrastam, eles me levam contigo. Eles dançam pela calçada e me desenham teu sorriso fazendo uso do batom de teus lábios. A ponta dos teus dedos encostam nos meus  - enquanto eu inspiro intensamente esse momento - na superfície de meu reflexo. Até que minha noite amanheça.
          O que os normais diriam? O que diriam os anormais? "Sádicos", "loucos" ou "sãos guiados por uma outra Razão que não se é compreendida".  E é por isso que queimo, inundado de pensamentos. Não parece  que tua voz  seria capaz de me dizer isso.

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