História inacabada (PART 1)

       Sempre contei os passos na praia:  a cada vívida marca na areia. Sentei-me sob as nuvens de algodão observando o balanço do mar, enquanto a calma trafegava junto a maresia para minha alma. Havia um desequilibrio em mim, que estremecia meus braços e perturbava minha mente, gritante. Então, o fiz. Duas horas antes em meu escritório pensava o porquê, por que? Minha gravata sufocava, minha coluna era referência social. Tanta gente, tantos amigos, tantas e tantos pretendentes, mas nenhuma razão. Amigos mesmo? Talvez um ou dois dos cento e poucos. Desde quando isso era vida? Desde que eu respirava ? Seria esta a vida? Joguei meus objetos pessoais para o chão em um fluxo de raiva e tombei. Minha vida passou em um minuto e três segundo desde  que mergulhei em direção ao fundo aonde não haveria como alcançar a superfície. Lutava contra meu peso até ver todos os que passaram por mim. Não sabia quando ou onde, parecia que não havia mais tempo ou lugar apenas sentia energias atravessando meu cérebro, enquanto a única coisa que naturalmente sentia era o demasiado excesso de sal que ardia minhas narinas e faringe, parecia rasgá-las. Eu disse tchau para ela no dia 13 de dexembro de 1968, quando as ruas de Copacabana eram tomadas por militares e cavalarias em peso. Seu pai era o poderoso chefão do Jornal do Brasil, e eu um redator indisciplinado que tentava vida na cidade grande. Ela me disse que não iria voltar, não hasvia entendido muito bem a razão, mas esclareceu-se antes de minha chegada na praia. Seu pai era a personificação do Lucifer em pessoa, e de certo os deuses fossem julgá-lo transformando-o em jornal velho, ou melhor, papiro. O abastado jogou contra as vontades da própia felicidade de Anna Bela. Ela, que era Bela, por causa de sua indiferença com a estética, irônica e bela; seu padrão despadronizado e os vestidos despreocupados; era Bela porque era lida, entendida e despida de mentiras. Ana leu, leu.. leu tanto que se embebedou de Shakespeare quando ao menos podia com o  Gregório. E antes de vê-la pela ultima vez me escreveu em linhas tortas que precisava de mim para sua cena final, porque não podia ir em vão. Ana tira isso de sua janela - era o que deveria ter falado quando hesitei em visitá-la para salvá-la das garras de Seu Everaldo, bastardo gerimundo. Agora ela precisava de mim, e isso era certo, eu estava a caminho.

Comentários

Postagens mais visitadas