Inverno dos dias iguais

              Não havia um mocinho ou um bandido na história, mas interesses que desencontravam-se inflando pulmões com fantasias e realidade além de uma homérica cumplicidade.
              Aquele inverno estava passando e pairava no ar uma atmosfera inquietante que parecia expremer corações feito laranja. O fogo da lareira, dessa vez,  não os acalentava e mantinha-os quente; ele destuia-os, despedaçando os corpos e as mentes daquele nevoeiro inacabavelmente resistente. Cortante, como ponta de faca: a cada palavra, a cada memória, a cada fotografia e respiração. Um suicidio do interior pedia vinho e mais uma música pesada de melodia romântica. Mais uma lata de cerveja e o fogo ainda ardia, assim como o fato de não ser apagado, pois ele tambem era eterno e a  razão da vida: o tudo e o nada, a guerra dos derrotados e a luta mais recompensante. Assim como lá fora, por dentro a chuva era pesada e devastadora bombardeando o asfalto com pingos de toneladas, que destilava a alma da tristeza daquele inverno inspirador e catastrófico.
           Estava tudo à beira do inconcluível fim, o fim de um começo. E era notório... já haviam passado dias e ainda não haviam sinais de que o tempo fosse acalmar, pois a tempestade não acabara. A selvagem tempestade não acabara  mesmo sem as nuvens cinzas sobre os corações. - o relevo original de todos aqueles sentimentos irrevogavelmente extremos, agressivos, vitais e, é claro , mortais.
          Já estava na hora de olharem para dentro de sí, e deixarem a chuva cair nos carros do estacionamento vazio. Era tempo de não cronometrar o tempo... por mais que ele conversasse com o tempo  dos interiores,  dividindo sua agonia e acompanhando sua trajetória...      trágica e solitária.

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