A mulher dos olhos da água

Suas mãos escorregavam e a água transbordava. Seu último som foi trêmulo e asfixiante. O barulho de seus pés eram graves contra o azuleijo e a luz alaranjada enfraquecia em frente a suas pupilas tornando-se borrões na imensa escuridão que a tomava.

       - Abri os olhos e te encontrei parada na porta da cafeteria. Tinha dormido vinte e poucos minutos esperando tu chegares. A vidraça já estava embaçada e fazia menos de 10º lá fora. Tu te aproximaste e me disseste que já não saberia se continuaria me vendo naquele horário e que o melhor era pararmos com tudo. Te perguntei por que estavas dizendo aquilo enquanto arredavas a cadeira - quando teu cheiro, então, afogava minhas narinas, ele alucinava minha imaginação com as velhas transas e filmes que assistiamos; as músicas de canais a cabo dos hoteis de beira de estrada que ficavamos em noites tediosas; sem falar no banco passageiro do meu caminhão que sempre ficava impregnado com a ideia de te ver mais uma vez. - Tu tentaste te explicar e disseste de novo que era tudo muito rápido e que precisavas de um tempo. Ainda não tinha entendido, sempre contive em mim um pensamento racional ao ponto de esquecer que as pessoas poderiam mentir. De repente, teu celular tocou e tu pediste um tempo. Te levantaste e foste ao balcão retirando um cigarro do bolso da calça jeans. Ouvi uma conversa, meus ouvidos estavam curiosos para alcançar teu tom e minha consciencia queria a razão de teus atos incompreensíveis. Olhaste para mim e disseste que tinhas uma carta pra mim, deixaste-a  sobre a mesa e partiste. Percebi o olhar periférico e indubitavelmente estressante dos olhos claros de teu rosto. Logo que saiste, minha mulher havia ligado, desliguei o telefone pois precisava decifrar a carta. Já em meu quarto, sentei-me sobre a cama imunda daquele hotel fuinha e, finalmente, a li. Tu estavas com outro homem e nada mudava as coisas para mim. Não até o momento de tu descreveres o amor que já sentias pelo outro. E digamos que como leitor sou um lobo... senti de longe a intensidade de teu sentimento e, além disso, li a profundide dele, pois percebi que tua alma pertencia ao infeliz e azarado cafajeste que achava que iria roubar-te de mim. Pois, então, ele se enganou, pois parece que seus olhos fecharão para sempre agora.


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