Forma ao passado

          À espera... à inércia... à distância... à incerteza. 
      Todas contra mim, corroendo-me aos poucos, - como a ferrugem ou o cupim - tornando minha aparência apática, letárgica e sem um brilho de vida (para os menos poéticos, leia-se, sem expectativa.) Um momento desesperado de fragilidade, no qual tudo parecia estar estático, longíquo e impessoal. Foi a um arco-e-flecha que me entreguei, baixei minhas defesas e tornei-me vulnerável. E, adivinhem, pronto, fui atingido em cheio. Nesse momento, arranjei um lápis, e me segurei na única coisa que sei fazer ( penso eu ): torcer as palavras, lapidar ideias confusas, torná-las legíveis e estridentes. Meu objetivo, foi, como sempre, tentar entender, ou fazer-me acreditar, no que é o certo ou o errado; no que aconteceria ou o que permaneceria no 'pause' na minha vida. Senti um vento peculiar cruzar da janela à porta do banheiro naquela noite, arrepiando os pêlos de minha nuca. Logo, lembrei-me, como uma profusão de pensamentos altamente sinestésicos, dos teus súbitos suspiros... ufff... tuas carícias inacabáveis em meu cabelo macio... teu perfume me afogando em prazer... o sorriso ensolarado... ahh... tua calvíce estranha e íntima... a pele do teu rosto ali, no espelho da minha frente, torrada da viagem ao Nordeste... nossa... e o cheiro insuperável do bloqueador solar... e como eu te amava... os lençois divididos durante todo aquele largo tempo... tu, nú, jogado sobre mim, meu fim. Mas o sorriso sempre veio das realizações malignas, não? Não eram as hienas os cães do demônio? Ironia e perseguição. Por quê? Aquela dor que senti, o sentimento de roubo, a falta de promessas, a discrença (que ocorre quando não se tem no que acreditar); essa dor, não era tua. A presença da tua dor transportou-me para as minhas mais profundas e intensas memórias. Tu nem sonhas com isso, contudo, acordaste o abismo em  mim, e eu o temo.Por quê? Pois nenhuma corda é longa o suficiente... nenhuma.

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