Mudança de Vozes

Não mais. Ele era um rei. 
O rei inabalável de uma távula redonda. 
As Terras Planas necessitavam da gestão de um rei com tal força e habilidade como a dele. O nome desse rei, no entanto, era Felicidade.  Seu império era composto por milhões de suditos que ainda acreditavam na prosperidade e na saúde de seu povo, os Amantes.
Mas, algum tempo atrás, em um dia chuvoso no qual o mundo desabava com raios que atravessavam o horizonte por cima das alamedas ao redor de seu castelo, viu seu Amor por trás da vidraça da cafeteria da esquina com um outro homem. Naquele dia chuvoso, vestiu a armadura, empunhou a sua espada, segurou seu escudo, e entrou na cafeteria. Hesitou no vão da porta dupla, a única entrada e saida do bar. Então, observou o campo de batalha... ao preparar-se para atacar ficou perplexo, imóvel, logo quando ja tinha o ar em seus pulmões e as palavras em sua lingua, aquelas distantes e frias...  mas, eles estavam discutindo - quem era aquele homem... aquele homem que a xingava e espalhava a hostilidade naquele lugar? quem era aquela pessoa que dizia a ele "tu não mereces meu amor; nao merece minha mão,  quiça o meu 'oi'; não mereces minha jaqueta à noite, nem o café da manhã; nada de sinceridade, nada de gentilezas... e no inicio era diferente... tudo pra dizer depois que não gosta de mim....não merece estar comigo..." - Contigo? Eu pensei. Haviam outros castelos, era isso! - E o homem continuou "Não fazes parte de mim mais, nem que eu queira... porque tu não tens nada a ver comigo." Ele se virou cabisbaixo e correu choramingando em direção a porta, ele me atravessou, como séculos não havia atravessado minha alma, - como ele não tinha me visto? - suas lágrimas escorreram em meu peito e deslizaram em meu coração, a dor, por isso, foi se instalando aos poucos, e meu nome Felicidade, borrou, como numa folha de caderno, ocasionando apenas em um reino caindo aos pedaços, cheio de incertezas, e por fim, até perceber que ele, fui eu.

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