O mistério sobre o mistério


        O mistério estava lá em algum lugar sob a sombra das árvores. Provavelmente, encolhido e com frio, enroscado às raízes daquele lugar úmido. Era uma marca que estava suspensa no ar, podia ser rastreado a milhas de distância apenas pelo cheiro. Mesmo não sendo visivel aos olhos, não havia escapatória, ele se alastrava pela terra como uma praga: uma ameaça invisível. Sem uma causa, explicação ou motivo, o cheiro apenas estava ali. Por trás de cada tronco, de cada porta, de cada esquina, em todo lugar, ele mantinha-se oculto e inexplicável. Como nos momentos de nudez, quando o maior teor de realidade pode ser tragado a base de maconha e nicotina e todas as cicatrizes estão expostas, a realidade torna-se subjetiva, impecavelmente, desolada, nem abstrata nem concreta, torna-se sedutora e um objeto de desejo. E jaziam palavras de cada buraco negro, até formarem o cosmos, os homens, os códigos, as sociedades, as culturas e as crenças. Mas o que aconteceu antes? E o que não foi dito? E jazeram elas por qual motivo? E não basta a loucura de viver o cotidiano? As cicatrizes são resultados, e por isso, provem de um ato anterior, que nessa floresta não foram explicados - não nessa noite. As respostas precisam de pergunta para serem respostas. E o que é o mistério? A abstinência da informação não-compartilhada? Descobrir o desconhecido no que já é  conhecido? Perguntas. A dor, saber da dor, ou se ela mesmo existiu, pois ela é um processo, no qual deriva a mares repugnantes. E a dúvida? O que resta é duvidar... Talvez só o tempo fosse apaga-lo. Pois é ele que absorve a vitalidade dos segundos. Talvez só a morte fizesse esquecê-lo. Precisam-se de ações urgentes a seu respeito. O mistério... precisa ser ignorado.

Comentários

Postagens mais visitadas