Sentido da perda

          Acostumei minha mente e treinei meu coração, mas não foram tão bons quanto eu esperava, pois eles, hoje, me falharam. Era como se o seu sangue vertesse de meus olhos castanhos e distorcessem as coisas que vejo, toco e sinto. Era um sentido de perda irremediável, pois junto ao veneno, a pureza escorregava por meu rosto, percorria meus braços, sem parar, atingindo, por fim, a ponta de meus dedos. Não havia outra maneira de descrever a dor de deixá-la ao chão, de perdê-lo de vista. Não havia outra maneira de descrever o quanto senti-me roubado.
         Era como se, no inicio, ele houvesse construído casas em meu deserto; criado cacimbas para matar a sede da minha esperança orfã; organizado uma comunidade; plantado e cultivado hortas; produzido um universo de folhas e plantas, um lugar em que se respiram elas e se absorvem a pureza delas - dada de bom grado; ganhado a confiança de seus moradores... quando, então, senti em suas palavras a força bruta. Feroz e impreciso como um furacão invisível, você despedaçou meu mundo, devastou minhas hordas, secou minhas cacimbas e queimou minhas casas.        
        Me dizes agora que isso tudo foi pra se proteger? De mim. De nós. Da distância.(Talvez você não possa ser) Existem caras e caras, mulheres e mulheres. E a mais simples resposta seria: você não era nenhum dos dois (talvez como eu não fui). Por isso, acostumo minha mente cansada, todavia atenta aos mais mínimos detalhes. Por isso treino meu coração, para qualquer queda brusca. E o sentido da pureza, não vem das plantas, nem das flores, vem da minha própria existencia, e essa, nunca será corrompida.

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