Nada acontecia (dentro, fora)

      Um dia o sol amanheceu frio, meus pés congelados e o edredom pela cabeça . Destapei-a, mas não movi um dedo da cama. Havia passado pássaros cantando e eles todos caíram gelados assim que se aproximaram da janela. Talvez fosse tudo verde em outro lugar. E só imaginar isso era vive-lo, senti-lo, presencia-lo. Vertendo pelo seu sangue; vivo. Entretanto, só conhecia o cinza e o negro; morto. 
    O quarto era sombrio e irremediavelmente desorganizado. Sua órbita absorvia, por isso, toda vida, transformando-a em pedra e cinzas, que nunca queimaram vermelho. Não tinha sentidos para sentir, pois não usava-os. Conhecia, por um dia ter ouvido um pássaro assoviar algo parecido.
     Um tom melancólico abateu seu futuro encarcerado. Era triste não estar triste nem contente. Mas  isso nada sentia, de fato, não sentia nem a melancolia. E num átimo, a esperança não estava próxima. Nada havia acontecido. E o mundo era grande demais para ser abraçado, então não moveu um dedo. - ele pensou sobre tudo que residia lá fora. Estava imóvel, sem saber que o que sentia era falta de esperança, a qual traduzia o desespero de um dia que havia pouco começado lá fora. Preso como uma tábua oca no tanque de lavar roupa, na masmorra de um ogro. A solidez de um sistema sem luz e estático. Era muito frio, ácido e esquecido, como um poço sem fundo. O relógio quebrado na parede era uma perda de tempo. A luta inevitável contra o dia estava perdida. Já era noite e nem piscara. Desde sempre fora assim, pois nada acontecia.


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