Viagem ao centro

           Sentado num banco qualquer no ônibus do meu dia-a-dia, me veio a cabeça um pensamento, a principio insensato, de que as coisas devem ser simples e simples devem ser mantidas.
         Era uma hora de viagem até o centro da cidade, onde a vida começaria. As pessoas tropeçariam uma nas outras atrasadas para o trabalho, os sinais piscariam entre o verde, o amarelo e o vermelho incessantemente. Uma tarde de fumaça, murmúrios e barulhos incansáveis. Então, bateu-me aquele vazio esquisito, uma leve culpa da consciência de que haviam muitas vidas perdendo algo essencial no meio do caminho, no meio dessa viagem que é a vida. Seria muito poder respirar? Poder sair do ônibus, sentar-me ao lado de um animal qualquer, sob a sombra de uma árvore e  olhar a tarde passar como quem não possui pensamentos difíceis e uma vida complicada.  
            Uma vontade imensa de ficar ali no desleixo me agarrou de surpresa o peito. Gradualmente, ao passo que a viagem se concluía e eu ficava nesse ônibus, meu ar escapava pra fora de meu corpo; meus olhos viscosos faziam de minha visão um belo borrão de cores da cor de mel que se misturavam; meus braços ficavam molengas e meus nervos tremiam, uma energia verde atravessava minha nuca e as luzes de dentro de cada um apagavam-se, até sentir-me o único, sozinho, em um trem inabitado.
         A porta, então, abriu. Um homem de cartola em trajes formais entrou e sentou-se em minha frente. Senti em meu pulso um batimento crescer, era como se meu coração tivesse se deslocado. Ele tirou a cartola e disse "Eu vim pela música. Ouvi vindo de seu coração. Tão ritmada e solitária. Você canta uma das músicas mais tristes que eu já escutei dentro de você." Minha testa suava e meu rosto respingava suor. "Você acha que é isso? É a sua hora? (...) Mas você tem tantos amigos e amor em seu coração tambem.(...) Talvez seu coração tenha razão, sua alma sufocou." Meu peito esquentou-se como em um abraço profundo. "Você é tão bonito por dentro. Não se preocupe, não há dor aqui, há paz suficiente pra sua alma acalmar-se e recuperar as energias. Quem sabe você volta para uma estrela maior e mais forte da próxima vez?" (...) 
       Ao acordar da viagem, senti uma lágrima escorrer em minha bochecha. No lugar do vazio, penetrou um acumulo de respostas, desorganizadas, que se traduziam naquele momento em:  perto da dor da perda e da morte, tudo parecia ser tão fácil -  para todos que já perderam algo na vida.

Comentários

G2 disse…
Curti mto a musiquinha do Edward aqui no blog! Quanto aos posts, ainda estou em processo de leitura!! Hehe
Please, troca o endereço do meu blog aqui na tua lista de leitura, porque mudei!
XXOO

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