E assim vens das palavras que respiro

         Encontrei um pouco de você ainda em mim e cheguei a bendita porem paradoxal conclusão: eu preciso saber que ainda está comigo e isso é quando e enquanto sofro; é quando me reconheço. Sabe a parte mais difícil de saber que já faz anos? É saber que ainda nada alcançou meu coração de forma completamente essencial. Pessoas são passageiras: te dão oi, um aperto de mão, um beijo, até sexo... e passam. Entretanto é tu que temi demasiado todo esse tempo; és como minha sombra que me acompanha mesmo no sol mais intenso. Surge latente, marcando o território que foi seu ( e parece que sempre será), vindo em fragmentos da memória que um dia aconteceu; estilhaços de vidros de uma janela quebrada no apartamento que não era seu. É aí que a dor "abre a porta". Quando apago as luzes e me lembro como sou agora. Um olhar-se no espelho no escuro; uma roleta russa de pensamentos; a consciência de que o tempo já passou e você deixou dentro de mim a coisa que mais importa: essas mesmas memórias, ainda que cheias de dor. Como um idiota saltando do fundo do meu pulmão, sua marca é a presença de uma ausência que ressoa em meus sentidos: meus olhos formam  borrões de seu rosto; meu nariz sente o cheiro do seu pescoço, sua pele e até teu rosto; meu tato recorre a lugares mais avessos a sua moralidade, mas quem sabe de nós dois? Apenas nós mesmos; meus ouvidos captam a unica coisa que ficou em mim, e é nesse sentido que observo por horas e horas; degusto a cada  palavra ouvida... e seu eco transpira em mim e me lava de verdades e rejeição. E nada melhor do que lembrar do quanto eu sofri - mesmo que a noite não comece para mim e apenas o dia acabe mais cedo no dia posterior - saber que é por mim mesmo que sofro é o melhor presente que tu me deste: afinal, não poderia ter me apaixonado de tal forma por uma pessoa tão poética quanto eu.

Comentários

Moises disse…
Gostei bastante :)

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