Monstros
Havia uma batalha homérica entre dois monstros pela frente: o fogo e a água. Mas tinha que começar por onde eu morava, algo concreto. Procurei respirar e fixei os olhos na árvore abaixo do edificio, aonde os barulhos da cidade não me engoliam com todos seus ruidos.
Naquele momento de exílio sobre as coisas reais, pude observar que descia a alvorada das incertezas. Então, mesmo dentro de mim, tentei esquecer-me de mim mesmo. Não importava o quanto tempo eu conseguisse ficar fora de mim; achar uma bolha perfeita entre o intimo e o mundo exterior. Fechei os olhos enquanto o vento continuava ricochetendo meu rosto e mergulhei em algum lugar dentro de pensamentos incabíveis. Até que vi um risco no escuro, e de repente, as cores da manhã seguravam as nuvens como pilares frágeis de um prédio abandonado. Essas nuvens chuviam ha tanto tempo que já não sabiam parar.
Outra faísca no vácui e a batalha estava para começar. As memórias que me sustentavam, me tocavam curiosamente, e por vezes, perfuravam, sem querer, a razão, como se não fossem parte de mim. Desamarrei-as uma a uma presas a mim. Fizeram-se os segundos, os dias e os anos novamente após o ultimo nó cego.
A mudança: eu não via as estações por fora, e sim como elas funcionavam. Me contemplava solido como a neve, soberana e indestrutível. Sobre os gramados as coisas mudavam, assim como as estações mudam e o sol derrete. E, por dentro, transfigurava-me liquido, revivido, a vida e a água. Escorregava pela esperança e aqueçia-me nos braços da imaginação, evaporando devagar. Libertava-me das concretudes e do que existia: transcendendo o inevitavel inventado e impossivel.
E na batalha do conhecimento entre meu leviatan e minha fênix, ela venceu. Pois ele não renascia, apenas me dava um motivo para continuar acreditando e lutando por um momento melhor.
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