De-composição

       Eu fazia pontas, nada mais obvio que isso. Foi hoje ao me de-compor que percebi o fato. Desde que era esse meu papel ( pequeno e mesquinho) me contagiei com uma doença estranha. Meus sintomas eram palpitações irreversíveis e sentimentos gritantes começando com fúria e saudade. As vezes, sentia uma pressão contra o peito. Certa vez ainda pensei que iria infartar. Estava sozinho quando aconteceu. Primeiro, uma vertigem e senti meus olhos pararem nos pés; minha boca acabou nos joelhos; o ar faltou e as cores formavam borrões mesclando umas com as outras. Então, pressionei o travesseiro no local, horrorizado sem ter nenhuma reação alem dessa. Levei os braços na cabeça e fiquei por horas do lado do comodo no chão esperando a hora chegar, mas nenhum telefone tocou. Talvez a morte tivesse atrasada, andasse muito ocupada. Talvez o silêncio não tivesse sido a coisa certa; meu ar de desentendido; tuas decisões mais do que espontâneas e nossa fala sincera. 
       Teria ido se hoje não doesse. Com você, de repente, tudo valia a pena. Era como viver um livro fora da literatura: você interpretava brilhantemente o personagem da vida. E nisso que eu mais te admirava. Me dói saber que não estarei na sua próxima cena, na mesma peça. Talvez fossemos Romeu e Julieta, e quizessemos simplesmente ter sido Eduardo e Mônica. 
      Havia um fio desconectado da internet na casa e um bilhete de amizade. Você não era sentimental, e a mobília havia sido removida, e o banheiro que fazíamos amor sumira, e consigo foram os rastros. E percebi daí que sua inexistência me era mortal. E é você essa doença crônica, aumentando a toda vez que seguro o molho das chaves; ou me recosto no sofá do quarto. E é sim você quando perco o ar. E sem piegas, pois você não era de sentimentalismos, me deixou disponível somente algumas outras pontas na vida a cada vez que te encontro. E vou-me de-compondo a cada dia que segue, até a ultima fala: a seca, sem nada, só sentimentos de um olhar nostálgico, porem misterioso.


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