Nas grades de palavras

       "Me sinto livre com as palavras somente." Poético, sensível e insensato. Livre para dizer-me e contradizer-me. Coloco-as em ordem e penso o impensado ou são elas que  me prendem em seu eixo sintagmatico? Se faço amor, são palavras que recito. Se choro, são as palavras que me calam. Se dói, são as palavras que me curam. Portanto, dependo delas, como um casal tradicional depende um do outro na sociedade tradicional. Mas onde há tradição, há cadeia. Cadeia de ideias, cadeia de sentimentos, cadeia de opiniões, cadeia de todo o resto que não for culturalmente aceito. E o paradoxo me embosca, enquanto dependo das sintaxes, enquanto relevo meus axiomas, me ponho a par das falsidades. E se me rendo, me entrego ao hábito das coisas comuns, da vida dos trouxas, da música sem melodia, do chocolate sem leite, dependo de todas as coisas, me sinto preso nas vidas e historias da cidade, me sinto preso nos verbos, e me aprisiono nos tempos. Ser livre também não é escrever, pois a escrita também é um sistema. Isso me cheira a Graciliano Ramos.

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