Realidade versus razão

       O calor estava insuportável. Poderia toca-la e sentir apenas seus restos deslizando sobre minha consciência. Tremi e achei o pano quente demais. Escorreguei com minhas ultimas forças os dedos na testa e cai num tecido de lã. Rolei pelo chão de goiabas e bati com a cabeça no galho de um estreito corredor de oliveiras. Caminhei por dois segundos e passaram-se duzentos quilometros. Me perguntei se cada dois segundos era referente a duzentos quilometros e se em meia hora poderia conheces o Canadá ou a França com minha superagilidade súbita.
       A janela estava aberta e a porta trancada e apenas um caminho desaguava naquele pantano que se materializou em minha frente. Sabia tudo que iria acontecer e alem disso sabia que era inevitavel. Nunca fui um desses que acreditava em destino, buscando a toda brida informações racionais sobre as experiencia menos explicaveis que sentia. Eram tantos lençois e cobertas sobrepostas como os olhos de quem não vê; um cego desprendendo-se do que é  visivel e superficial: sentido em sua pele, tocando sua ideia, e beijando seus resultados como se fossem seus
      Quem sabia da vida não era o mesmo homem que estava sobre aquele palco na noite de hoje a noite. Escureceu-se de ideias e olhor por entre as cortinas. Um segundo que é mais do que 10 minutos. E nada ocorreu. Escutou algo estourar e um flash de tras das cortinas, um flash que nem ao menos viu. O que estava acontecendo? Brincou com a imaginação ironicamente. O mundo acabara e não tinha percebido, mas o tempo se fora, e as encenações tambem se iam. Por isso, resolveu lavar a vida.
     A limpa pia do banheiro estava entupida de pensamentos groxos, irrelevantes e impenetraveis, imperceptiveis e ignorados, textos sem vida. Por que estivera ali e não  no dia da praia? No suor da cama? Não na neblina representativa de julho? Aonde estivera esse tempo todo e quem era aquele rosto na frente do espelho. Tocou mais uma vez seu reflexo e abriu todas as cabines do banheiro e elas estavam sem resposta: sem vaso ou descarga.
      O barulho agudo de outra explosão deveria lhe dizer algo, mas apenas o assustou. O que viria acontecer? A morte? Não. Na verdade, o presságio da morte não se aproximou, pois havia muita tristeza a ser sofrida. Aquilo não parecia estrutura digna de conclusão; encerramento; desfecho do ato. Mas eram seus amigos indo para longe um a um na sombra do corredor? A quem se apontaria culpa do badalar dos sinos? Quem seria o sucessor? Havia dor tão ácida quanto a terrivel perda da felicidade? Não. Prefiria não ser feliz.
      Desceu as escadarias e correu para o ginásio aonde havia uma piscina. Ela estava ali o olhando enquanto batia os pés na água. Perguntou como estava e por que estava ali aquela hora.  Uma figura afigurada, não havia uma forma especifica para ela. Contei a ela que andava estudando os sonhos. Ela me disse para largar de bobagem e parar de teorizar cada ação e reação de tudo que acontecia. Me contou que nada na vida é controlável, pois o limite não existia de acordo com ela. Quem o convencionou foram todos que morreram por seu proprio limite criado. Não alcançaram o outro lado da piscina - É claro, se ele houvesse, me enfatizou. Baixei meus olhos e a contei que sentia saudades. Mas ela disse que na verdade eu não tinha saudades. Perguntei por que? Ela me disse que saudade é sofrimento inventado. Não se tem saudade de coisas boas, se tem lembranças e que as guardava sem comentarios nostalgicos. O que tinha acontecido comigo? - a questionei. Ela me disse que havia percebido o por que das coisas não terem um porquê. Sabe? Quando elas não estão dentro do circulo das coisas identificaveis e objetivas. Mas eu repliquei: voce saberia me dizer o que é identificavel e o que não é?  Ela me disse que novamente estava me preocupando com os comportamentos de novo. Me disse que é como se eu estivesse supondo que tudo estavivesse errado e que deveria ter sido de outro jeito. Que era feia minha insatisfação desnecessária. Perguntei a ela então seriamente. Quem é você? Ela me olhou sem olhares bruscos e me ecoou sou sua a irmã de sua subconsciência.  Eu pensei que estivesse louco e comentei a respeito. E ela me disse que todos nascemos loucos por sabermos que as coisas não possuem apenas formas. Ela me empurrou na agua e eu me acordei para o trabalho.
         Olhei o relogio. Havia perdido a hora novamente. Peguei meu guarda-chuva. Pela janela via os carros enfileirados. A casa estava bagunçada, assim como meus sentimentos e meu guarda-roupa. O mais curioso foi perceber meu corpo, atravessando o tempo e paredes.

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