Ideias no cotidiano

           Eu era um organismo, e isso era uma das obviedades da vida. Isso, é claro, após os avanços da ciencia. No entanto, havia uma madrugada perdida em mim enquanto o universo se encontrava nas vias duplas dos meus pensamentos.
           Entre os que iam e os que vinham, um em particular chamou minha atenção. Como uma estrela cadente na imensidão negra da noite. Senti suas palavras derreterem-se sobre minhas ideias, desmistificando e distorcendo-as ao mesmo tempo. As sinapses transportavam códigos outros, de um novo formato, com novas regras e estratégias de organização. Senti alguns problemas desaparecerem em meio ao nada, e alguns restos de informações sendo etiquetadas, embaladas e predefinidas em seus devidos lugares dentro do vendaval de pensamentos.
           Olhei forte de volta para o nada remetendo-me a complexidade do que representaria o vazio. Tombei-me em silencio imprescindível ao esclarecimento das ideias,  - enquanto alguns diziam que era a caixa-do-nada, eu chamava de processo. - então, ouvi um zunido vindo daquela ultima sinapse cansada e sedenta por caos.
           Ultimamente, havia muitos ruídos entre as pessoas que rodeavam, emoções pulando das bocas, informações convulsivas, infarto de orações, hipertensão de monólogos sentimentais. Precisava de um canto vazio, em algum lugar esquecido, aonde as ideias não perturbariam nem mesmo o meu sono com seus sonhos dementes, loucos. Me perguntei já crescido se isso era ser 'ser humano': ser vitima das inúmeras razões irracionais e do mundo caótico dos pensamentos cortantes... E se eu pudesse retornar ao ponto em que os problemas não eram ideias; e ideias não eram problemas.

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