Espectador

        Não havia mais inspiração, nem copo de água. Não havia mais tristeza, nem frio ou quietude. Não havia introspecção apenas um leve sufocar. Não havia ausências, talvez uma distante nostalgia. Mas não havia magoa ou rancor. Não havia coceira nas ideias, não havia canetas, não havia anotações. Não havia sonhos, não havia expectativa. Não havia anseios maiores que os do dia posterior. Não havia nervosismo, escuridão, insegurança. Não havia papel,  nem telefone,  nem vontade de segurá-los com a ponta do dedo. Não havia melodia, nem rima, nem vontade de fazê-la existir. Não havia beleza, num espasmo de clareza, não havia tristeza.  Não havia  amargura, nem campos floridos, catástrofes, apocalipses, crises e incertezas, maldade ou desespero. Não havia critica, nem vontade de achar uma. Não havia testes a serem realizados.Não havia nada. Não havia. Parei por um segundo, enquanto me refleti no espelho do quarto que não era meu, e não me vi o mesmo de ontem. Quando percebi: voltei a ser um mero espectador da vida.

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