Conto sobre o menino de Turningham #2

             Certa noite, em um derrame de memórias insuportáveis, talvez tivesse sido a falta de oxigênio e a asma que tivessem dado-me a coragem devida, atravessei o castelo com os olhos carregados de angustia e saudade por quem se fora para não mais voltar. Havia passado apenas 3 meses desde o incidente o qual fizera a rainha de Turningham perder-se no eterno apagamento da vida, e meu coração não permitia-se conformar. 
         Embora não fosse minha mãe, minha gratidão pela vida daquela senhora era incredulamente absoluta. De uma forma não-verbal, ela dizia-me coisas sobre a vida, sem ao menos direcionar uma palavra se quer. Encontrou-me em uma das ribanceiras da floresta, por onde a lama persegue os rios e a natureza das coisas estão nelas mesmas, exilado de minha terra banhado em sangue, fugia de onde era dito ser minha terra, onde  eu havia caído a dezenas de anos atrás para que vivesse por no mínimo 500 anos, cuidando da floresta  que era parte de mim por natureza. No entanto,  sob os encantos do mesmo bruxo que matara meu pai chamado Fieran, criaturas sombrias haviam nos encontrado, dizimado quase completamente nossa história. 
            Primeiro, as luzes caíram do céu,  cruzando o coração de quase todos nós, achamos que fossem outro Rangers, estrelas caídas, como nós, mas eram flechas envenenadas do envelhecimento. Então, um encanto selou a clareira da floresta, um dos meus irmãos empurrou-me a tempo de salvar minha vida para fora da rede enfeitiçada. Eu sabia que não poderia atravessar os limites da floresta, mas assim foi. Vi todos dentro daquele feitiço dissecarem, sem eu poder reconhecer de onde o ódio emergia, não em mim. Corri em direção a floresta, mas minha garganta secava a cada minuto passado, e por isso começava a me arrastar, desviando das raízes e galhos ao afastar-me da orla, cheio de tristezas e mágoas. Em um átimo, num momento de descanso, luzes como tochas vertiginosamente aproximavam-se, e com elas grunhidos ignotos. Estava na ribanceira, sem perceber um palmo a minha frente. Todos barulhos da floresta não eram como sempre haviam sido. Estavam vazios e sem esperança. Escutei um gemido, e ao me virar subitamente, defrontei-me com a face de uma criatura voraz. Pelos sebosos e escuros, rangindo seus dentes e arfando ofegante. Era um dos lobisomens de Aquien, correndo em minha direção. A poucos metros de meu corpo franzino, determinando o possível fim de minha estória.




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