Conto sobre o menino de Turningham


                 Não havia mais ela naquele castelo em Turningham. E isso era triste. Ela havia partido junto com a alma das estatuas na torre em que costumava ficar apreciando a leitura de suas próprias linhas. Sorria sozinha de uma maneira pacifica. Perdida em tempo e pensamentos, enclausurada em um espaço irreal, que muitas vezes, nem eu, seu filho, conseguia alcançar. Pois de minha mãe, não esperava nada, apenas silencio, e isso fora sua lição mais valiosa. Ela, que após a antiga batalha de Condor, nas terras de Aquien, onde hoje ainda vivo, teria herdado através de um contrato feito por seus pais, um esposo, um homem bom, porem desacreditado sobre as coisas do amor, por sorte de minha mãe. Esse marido de minha mãe não a amara, mas sempre a defendera junto ao castelo e a vida suserana que vos fora concedida. Já meu pai havia morrido há muito, defendendo um pequeno alojamento de seu inimigo imortal, um bruxo maligno das fronteiras de Decário.  Liah, era uma menina como qualquer outra, embora fosse diferente de todas almas que já conheci. Em sua adolescência carregava seus cabelos volumosos ruivos, que ao vento pareciam movimentar-se como membros, emitindo voz e vida própria, dialogando com a luz das coisas e com a escuridão dessas mesmas coisas também. Costumava adentrar as florestas de Turningham com um punhado de coragem, desbravando seus mistérios divididos em sete, esclarecidos postumamente em uma carta, triste e esmeralda, de tecido fino, com uma validade curta, que só revelara na déspota de seus centenários anos. Sua benção fora sempre um refúgio do qual me abriguei durante os dias de gratidão que devotei ao ser mais doce que já conheci.  
                   Em uma das noites de divagação, em busca de equilíbrio humano, me encontrava deitado sobre a cama. E lembrei-me sobre o pergaminho. Acendi um candelabro com papel em chamas ao berço da cama. Voltei a compostura, enquanto ajustava meus quadris para sentado ler o antigo papel sedoso que minha querida mãe deixara em baixo de um jarro de tulipas, as suas favoritas... foi quando suspirei, alertando-me que sua ausência ainda ardia presente desolando meu coração quase-humano.
                 
                

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