Significando Nada


            Somos organismos, o resto é história. A história que recheamos de significado. O significado... havia algum espalhado por entre os segundos; os minutos das horas; dos dias que deslizam pela memória; das  semanas que sentimos passar de pressa; dos anos que vivemos em nostalgia; das décadas que descreve a silhueta da vida que tivemos. Por muito tempo havia pensado que houvesse; Signficantes, e não só meros personagens de uma peça; de um Significado significado pelo mundo que já fora oceano e um único continente. 
          Contive-me no momento que antecede meus julgamentos, atribuição de culpas a quem penso que sou. Perdi-me a medida em que adentrei o triângulo das bermudas de meus pensamentos nevoados pela dúvida. Senti-me perdido a metalinguagem da metáfora, que é só outro sentido para o que as palavras querem dizer. Que complexo de inferioridade tremendo usá-la, se é de humanidade que quero falar, com múltipla ambiguidade nos significados despojados de pretensão. 
           Apesar de não parecer ter perdido o compasso alocado no córtex pre-frontal do meu cérebro por tempo indeterminado - aquele capaz de discernir o que seria moralmente possível e socialmente apropriado - esqueci-me de todos os planos a longa data; e a vida que esperaria dali para frente já era uma incógnita. É tão errado viver em um cronograma fixo; preferimos usa-lo, o sentido, significá-lo, concebendo que faremos diferente o processo de significação; concebemos que todas coisas que denominaremos e conduziremos seriam inéditas; enchemos nosso coração de esperança; todas as coisas que poderiam ilimitadamente criar; um oceano infindável de possibilidades. E, por isso, migramos para a ficção de nossas histórias, de nossas literalidades; remamos contra a corrente em uma tormenta intransponível a fim de descobrir-nos em um mundo pouco mais "nosso"; um pouco mais "Eu"; atribuindo aos poucos sentido ao sentido, deslizando e esquivando-se das certezas absolutas, das inverdades sociais, das normas pré-concebidas. No final do caminhos, nos deparamos em uma cabana. É nessa cabana que acabamos por nos reinventar, criando um sistema de significados interno (o que nos torna Homo Fictus, seres ficcionais), e assim perdemo-nos em um universo do Eu; em que as palavras lembram o rosto do Eu; o olhar penetrador revela-se unicamente parte do Eu; o cheiro interpenetra os caminhos percorridos pelo Eu; o tato possui suas próprias terminologias; enquanto, do outro lado da floresta, como orvalho no início do dia, o exterior/externo se desfaz.
             A culpa de ter significado, inventado um sistema interno, e feito dele um modo de ver as coisas, que é compreendido por somente você; nunca será sentido da mesma forma e nem compartilhado. Você se apaixona pela sua obra, pelo todo, construído através dos detalhes. Cria laços, vontades, retoma aos conceitos que são mais proeminentes e indestrutíveis em você, assomado a uma lista de ingredientes,  inventando, dessa forma uma vida fictícia,  frágil e delicada, porem a que você fez parecer seu lar, e a que você se torna dependente.
            O significado das coisas é um passa-tempo para a transformação orgânica da vida externa de quem "Estamos". Entretenimento, distanciamento da verdade; que não estão nelas, nem mesmo no que elas produzem. - Verdade? Mentira! - Apontamento de ideias, razões, intenções - tão vazias todas elas - algumas vazias. - Algumas? - tão vazias quanto um colchão de ar que caso você tira o pino, e em um átimo, todo seu conteúdo é absorvido pelo mundo de fora; o sistema de significados externo, o que faz de nós Homo Sapiens; o lado oposto da ficção que tanto sonhamos e pensamos construir por muitos e muitos anos de nossas vidas; anos que passam enquanto estamos de olhos atados; presos em seu Casino, onde horas, dias e anos passam sem ao menos você perceber; Aos olhos atentos... aos analistas da própria vida: a triste realidade, o esfacelamento e o azulamento das cores quentes; o mundo óbvio, dos encaixes métrico; do tempo cronometrado; da vida literal, a qual é dispensável, sem virgulas, cíclica, destemida, e somente, orgânica.


"Life's but a walking shadow
a poor player, that struts and frets his hout upon the stage,
and then is heard no more: a tale told by an idiot, full of sound and fury
signifying: nothing"







Shakespeare -Macbeth

Comentários

Postagens mais visitadas