3. Reencontro

          Estar contigo era meu sorriso e ser sorridente era poder ser feliz. Não estar não me definia um ser vivo triste ou melancólico. Não estar dizia mais coisas sobre saber quem sou. Decidi retornar a minha essência, viver-me no perdido: o breu do escuro, deitado sobre a cama, imaginando os objetos postos nos respectivos locais, que hoje ja desconheco. São essas as projecoes mentais das quais sao prendidas minhas veias emocionais esticadas ao limite da minha alienação a um universo que já não mais pertenço, tal como as cordas de um violino ou um violao celo, das quais vertem as melodias bucolica e belas. As coordenadas de cada movel como um mapa que transparecem a concretude desse amor. Larguei a chaleira sob o fogão, escravo de quem me tornei, sentei com as pernas cruzadas e acendi um cigarro. Acredito que mais um ciclo de lavagem da maquina de roupas chegava ao fim. Me questionei como a servidão a vida social me libertava do ego, que me engolia junto ao fracasso. Fracasso como modelo e atriz, dizia ao meu espelho o quanto eu era especial mas me via naquele quarto, naquele comodo e a realidade ecoava "Isso é o melhor que já conseguiu?". Empreguei-me no ócio pois não haveria competiçao mas o clamor do espirito do auto-conhecimento. Uma vez uma de minhas amigas da agência de modelo contou que precisavamos dar a impressão de não estarmos competindo, para alcancar a beleza inatingível, que competir era uma perca de tempo para os sonhos mais baixos e rasteiros, esse charme quase cinematografico, formula do sucesso na vida. Porem, hoje, perdida no escuro, o qual amo, pois o escuro que me alimentava, parecia mais um salto de paraquedismo que deu errado no momento proximo a aterrisagem.  Um daqueles sonhos que caimos, mas nao sabendo aonde ou quando vamos parar. Despejei a agua no cafe instantâneo, prendi a caneca em meu indicador e sai da cozinha. Sentei-me no espelho do fracasso e perguntei-me quando seria tirada aquela venda de meus olhos. Quando Os conselhos da minha amiga nao puderam ser seguidos por ela mesma, que comecei a desconfiar da existencia de uma venda. Ela nao faleceu mas vaga por São Paulo hoje, virada em ossos e visões distorcidas da vida. Acabou nao dando muito certo na Agencia e gastou seu ultimo centavo em drogas, confiou nas pessoas erradas, recebeu conselhos errados, de pessoas nao tao iluminadas. A ultima coisa que chegou aos meus ouvidos foi a sua aparicao nas ruas a procura de comida. Enfrentei o espelho e me perguntei se pudedse ter sido o Amor que houvesse a matado de certa forma. De certa forma é por ele que todos nos morremos, todo dia. Quando mesmo depois de nosso esforco, ele nos desaponta, nos deixa sem vestigios, perdemos aos bocados o sorriso e um pouco de tudo que nos somos. Coloquei sua mão que repousava sobre minhas pernas de volta ao volante. Mesmo saberndo da ausencia de seu sorriso, perder-me sempre fez  era partparte de meus reencontros. Adiante eu, sem saber-me de mim mesmo. 

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